Joyce Cursino tem 27 anos, mulher negra nascida em Belém do Pará, criada no bairro do Jurunas, periferia da capital paraense. É cineasta, jornalista, comunicadora, atriz, produtora, empreendedora social e co-fundadora da Negritar Filmes e Produções, produtora audiovisual de impacto social composta por pessoas negras. Também é idealizadora do projeto de democratização do acesso ao cinema “Telas em Movimento”, o primeiro festival de cinema das periferias da Amazônia.
Em 2022, Joyce completou 10 anos como jornalista e já recebeu o título de “Repórter Padrão” pela Câmara Municipal de Belém. Mas sua caminhada profissional como comunicadora antes mesmo da entrada na universidade. Aos 15 anos, Joyce se destacou como repórter mirim e desde então, a comunicação tornou- se parte indissociável da sua vida profissional.
Dentre vários outros títulos e premiações que Joyce recebeu ao longo dos anos, um dos mais significativos foi ser eleita uma das 30 vozes para mudar a indústria da comunicação.
Atualmente percorre o Brasil realizando mentorias, palestras e potencializando as narrativas dos povos da Amazônia através do seu ativismo e empreendedorismo no audiovisual.
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Ao mesmo tempo, a vinda da mãe de Joyce, Silair, para a capital paraense ainda muito jovem representa a história de muitas mulheres negras que enfrentaram os mesmos desafios para trabalhar e criar seus filhos. Em Belém, Silair foi morar na periferia da cidade, no bairro do Jurunas, lugar em que Joyce foi criada.
A cultura periférica urbana de Belém, conectada com a ancestralidade negra amazônica, é refletida em Joyce, que desde a infância transita por espaços públicos e interage com eles. Sempre comunicativa, liderava outras crianças e adolescentes nas atividades. Seja na escola, na igreja ou em festas do bairro, Joyce já mostrava a que veio. Se tornaria uma grande artista.
Diante das dificuldades financeiras e estruturais, as oportunidades eram escassas. Foi preciso ter muita persistência e contar com o apoio familiar para criar estratégias e driblar os obstáculos impostos pelas desigualdades sociais, pelo racismo e sexismo. Na simbologia africana adinkra esse caráter de superação e resistência diante das adversidades da vida é expressado pelo símbolo de Aya. E foi dessa forma, superando e resistindo, que em 2014, Joyce conseguiu se tornar a primeira de sua família a concluir o ensino superior, formando-se em Comunicação Social.
Hoje Joyce pode ser considerada uma artista paraense, mas que precisou ser muitas coisas para que isso fosse possível. E seu trabalho segue se desdobrando em diversas iniciativas alinhadas com o território, a ancestralidade, o ativismo político e ambiental em frentes como o empreendedorismo social, a atuação, o cinema, a produção audiovisual e a comunicação popular.
Com o tempo, Joyce aprendeu a olhar com atenção para o passado para ressignificar o seu presente e construir um futuro significativo e diferente para si e para as pessoas que são transformadas, de algum modo, por onde ela passa com seus projetos, ideias, empreendimentos, conversas e outras tantas ações que buscam a emancipação das pessoas pretas na Amazônia.
Do passado do audiovisual brasileiro, a primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem, Adélia Sampaio, disse uma vez: “Me considero ousada pela coragem de fazer cinema”. E seguindo os passos de Adélia, Joyce segue ousando com sua coragem de fazer cinema na Amazônia. Em 2022, foi eleita uma das 30 vozes para mudar a indústria da comunicação.
“Nossos passos vêm de longe”. A frase da ativista brasileira Jurema Werneck tem um significado profundo na vida das mulheres negras, pois expressa uma trajetória que é individual, mas também coletiva. Que compreende o legado e a trajetória das mulheres negras que vieram antes de nós também constitui aquilo que somos e aquilo que queremos ser no futuro. Joyce Cursino é uma das tantas mulheres negras cujos passos vêm de longe. Filha de Silair Cursino e irmã mais velha de Eduarda Cursino, seu ponto de partida é a ligação com suas raízes familiares, sem a qual não teria alçado vôos tão altos e tão desafiadores ainda muito jovem.
A família de Joyce vem do interior do Pará, do município de Bujaru, oriundos de territórios quilombolas da região. Dessa origem ancestral, destaca–se as relações com o território, com o meio ambiente e com diversas manifestações do conhecimento tradicional que moldam os modos de vida, as tradições, as crenças, as memórias e histórias de quem vive na Amazônia.
De lá para cá, foram muitos trabalhos de abrangência local e nacional como comunicadora e jornalista. Já são dez anos de profissão, marcados por passagens em emissoras como a Fundação Nazaré de Comunicação, Tv Cultura, Rede Globo (GloboLab Profissão Repórter), Rádio Unama e SBT, sendo a primeira jornalista negra contratada pelo SBT Pará. Em 2017, foi agraciada com o Prêmio Nacional MPT de Jornalismo e em 2021, o trabalho jornalístico de Joyce foi reconhecido na Câmara Municipal de Belém através do diploma de “Repórter Padrão”.
De jornalista a atriz. Em 2016, Joyce protagoniza a webserie “Squat na Amazônia”, um trabalho de relevância que aproximou Joyce do universo audiovisual não apenas na atuação, mas nas posições de produção e direção. E com essa aproximação veio a constatação: “O cinema é o lugar mais racista que já estive”, destaca Joyce. E as estatísticas comprovam. Mulheres negras ainda ocupam poucos espaços nas telas e principalmente atrás das câmeras, de acordo com a pesquisa A cara do cinema Nacional, realizada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). E é contrariando essas estatísticas que se concentra todo o trabalho de impacto desenvolvido por Joyce.
Partindo desse incômodo, de um cinema que não reflete a realidade da população brasileira formada majoritariamente por mulheres negras, nasce a Negritar Filmes e Produções. Um projeto de grande impacto social que contribui para que outras mulheres sejam protagonistas de suas próprias histórias. Dele, surge também o Telas em Movimento, o primeiro festival de democratização do acesso ao cinema nas periferias da Amazônia. Compartilhando narrativas pelos territórios e trocando saberes, é a comunidade contando suas próprias narrativas através do audiovisual, estando na frente e atrás das câmeras.
Em 04 de agosto de 1996, nasce Joyce Cristina Cursino de Abreu. Leonina, com ascendente em virgem e lua em áries, Joyce cresceu no bairro do Jurunas, periferia de Belém, e onde vive até hoje.
É filha de Silair Cursino, mulher negra, mãe solteira, que saiu do município de Bujaru, no interior do Pará, em busca de melhores condições de vida em Belém. Na capital paraense trabalhou como empregada doméstica junto de suas irmãs.
Silair também é mãe de Eduarda Cursino, irmã mais nova de Joyce.
Parecia que a comunicação sempre fez parte da vida de Joyce. Desde criança era apaixonada por tv, que assistia pela janela da casa das vizinhas, pois não tinha o aparelho em casa. Além dessa paixão, a comunicação também se expressava na habilidade de liderar, de se expressar. No grupo cultural da igreja Santa Teresinha, por exemplo, Joyce participou do espetáculo da resistência jovem católica, que abordava o período da ditadura.
Também era muito dedicada aos estudos, e contava com o incentivo e apoio da família para seguir estudando.
Mas apesar da dedicação, Joyce teve que trabalhar desde cedo para ajudar nas despesas de casa.
Joyce transitava em espaços diversos que iam da igreja à Festa da Cervejada, em Bujaru. Já mais jovem, começou a trabalhar com seus tios nas vans que eles tinham para fazer a condução de passageiros no transporte alternativo de Belém. Como cobradora de van, Joyce complementava a renda da família.
Cria de escola pública, entre 2014 e 2015, Joyce realizou o curso técnico em Rádio e TV, pela Escola de Comunicação Social Papa Francisco. Entre 2015 e 2018, ela fez sua graduação em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, pela Universidade da Amazônia. Mas antes mesmo da sua formação técnica em comunicação, suas habilidades para comunicar já se expressavam através das atividades que fazia como voluntária.